Starry Night ou Noite Estrelada,Van Gogh
Vejo a noite estrelada de Van Gogh. Há beleza nos meus olhos, ainda. Ontem tive medo. Antes tinha medo do escuro. Parece tão simples, agora. Careço do azul que há pouco se espalhavam em minha retina. O presente tem gosto de lágrimas e até os viadutos parecem solitários. As flores não se deram conta, nem os sinos que anunciaram as mortes. A cada dia somos menos um, menos dois, menos três e outras tantas faces. Como seria essa noite no pincel de Van Gogh? Como capturaria a aspereza do silêncio e do medo percorrendo o vazio das ruas? Veria estrelas? Não há algazarra de crianças na rua, nem pipas alcançando as nuvens. Paralisaram como o vento sobre as árvores. Desejo uma praça e gente conversando, desejo pipoqueiros e barulhos de fogos de artifícios, mas nada se move. Tocaria um pedaço de esperança, como toquei as estrelas de Van Gogh. O último abraço, o último sorriso, ainda lembro.
7 Comentários
Belíssimo texto. Reler Van Gogh à luz de uma realidade dura como a que vivemos. Penso que o pincel de Van Gogh, para cada "menos um..." Pintaria mais uma estrela brilhante no céu azul.
ResponderEliminarE às praças, voltarão as crianças, o pipoqueiro e o barulho dos fogos. Medo, solidão e esperança...
Verdade Renato.
ResponderEliminarUm texto lindo de contexto tão delicado. Só uma sensibilidade literária muito refinada capturaria para nossos olhos a realidade sem agredir a dor que está exposta.
ResponderEliminarUm texto lindo de contexto tão delicado. Só uma sensibilidade literária muito refinada capturaria para nossos olhos a realidade sem agredir a dor que está exposta.
ResponderEliminarObrigada, querida escritora.
ResponderEliminarQue nosso céu se pinte de esperança e a nossa fé brilhe nesse momento tão difícil. Um texto tocante!Parabéns, Rosa Morena!
ResponderEliminarO medo , de fato, nos persegue. Hoje, mais do que nunca. A poesia parece se esconder na esquina. Mas a sensibilidade da arte (do azul de Van Gogh, do olhar sensível de Rosa Morena) traz esperanças de que seremos mais humanos. Que a nossa memória não nos traia. E se assim o for, Rosa Morena, teremos dias mais felizes, com pessoas na praça, com pipas no ar, com conversas, com sorrisos...
ResponderEliminar