Gênesis de um Poema*


Ilustração por Johannes Plenio


Devaneios sobre um poema que ainda não construí.
Deve ter feições de anjos arteiros pelos céus
E fazer redemoinhos como sacis nos galhos.
Ah, que o poema se deslumbre ante os entardeceres,
E se descubra como o pôr-do-sol beijando andorinhas.
Que o meu poema fale de amores feitos ou refeitos
Mas fale também de perdas que sangraram corações,
A ponto de encher com suas lágrimas as cachoeiras.
Que meu poema extraia do cotidiano as sutilezas despercebidas
E as tornem preciosos diamantes como luzes que se acendem no palco principal da vida.
Quanta  ternura  busco no poema que ainda não construí.
A emoção de um menino a brincar nas poças d’água deixadas pela chuva
Ou o olhar de uma mãe reconhecendo o rosto do filho que acabou de nascer
Ah, poema meu!
Traga consigo o pó do mais humano dos homens, 
A sapiência de Deus e faça-se!



*Publicado na Antologia Poemas em Cinco Faces - 2013

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